Com a baixa no preço do barril de petróleo, verificada desde Junho de 2014, o Executivo angolano poderá não conseguir cumprir o seu programa de governação submetido aos eleitores em 2012, defendem analistas.
Por Nelson Sul D’ Angola (*)
O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, perspectivou para 2015 um ano difícil no plano económico, que vai levar à redução de algumas despesas públicas.
Na estratégia para contornar as dificuldades, o Governo angolano e o partido que o sustenta, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), decidiram recomendar o estudo de um conjunto de medidas de aplicação imediata, que permitam minimizar os efeitos negativos da baixa do preço do barril de petróleo sobre a economia nacional e a vida das populações.
Será ainda reforçado o controlo das despesas do Estado e a disciplina na gestão orçamental e financeira, para que se mantenha a estabilidade económica no pais.
Contudo, o analista político Chipilica Eduardo lamenta que só agora o Presidente da República demonstre a sua preocupação. “Esta baixa no preço do barril de petróleo põe a nu a nossa economia, demonstra a nossa fragilidade. Por isso é que a crise devia ter sido anunciada há muito”, defende.
“A contenção e a racionalidade são princípios da boa gestão que não se colocam só em momentos de crise”, salienta ainda o especialista.
Promiscuidade nos negócios do Estado
Quanto ao reforço anunciado por José Eduardo dos Santos para um maior controlo das despesas do Estado e a disciplina na gestão orçamental e financeira, com vista a cumprir as metas de governação, o também jurista diz não acreditar nas boas intenções do Governo.
Incumprimento à vista?
Para Chipilica Eduardo, a corrupção e a promiscuidade nos negócios entre o Estado e os governantes é outro factor que põe em causa qualquer estratégia e programa de governação do partido no poder em Angola.
“Um dos grandes problemas, de facto, são as fontes de financiamento e também os negócios que o próprio Estado faz com determinadas figuras”, explica o analista.
“Entre os negócios públicos há negócios privados. E esses também levam uma boa parte do Orçamento de Estado para essas pessoas. O próprio Presidente da República reconheceu isso”, lembra.
Escândalo do BESA
Para o analista, outra questão que “mexeu com a economia do país” foi o resgate, que ascende a cinco mil milhões de dólares, concedido pelo Estado angolano para salvar o Banco Espírito Santo Angola (BESA).
O BESA debatia-se com graves problemas na sua carteira de crédito, por causa dos créditos sem garantias que aquele banco concedeu a várias figuras da elite angolana e próximas do Presidente José Eduardo dos Santos.
“Tivemos que dar dinheiro e ninguém esclareceu porquê. Quem são as pessoas responsáveis?”, interroga Chipilica Eduardo.
“Um país que precisa de outras fontes de receitas para o seu desenvolvimento ainda concede perdão àquelas pessoas que não tinham pago os impostos de 2012 a 2014”, critica ainda o analista.
(*) In: DW África